Mostrando postagens com marcador Basil Dearden. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Basil Dearden. Mostrar todas as postagens

Khartoum - A Batalha do Nilo

Khartoum, capital do Sudão, 1883.

A cidade está tomada pelos seguidores do Mahdi, um fanático muçulmano que se auto-proclamou "o Esperado". No entanto, lá estão também milhares de civis egípcios.

A Inglaterra, então responsável pela segurança desses civis, e já não querendo mais gastar tantos recursos em uma guerra fora de suas fronteiras, decide negociar a transferência oficial do poder ao Mahdi, mas exige que todos os civis egípcios e ingleses possam partir de lá em segurança.

Para isso envia o General Charles Gordon, exímio diplomata e um homem adorado pelo povo sudanês, para negociar com o Mahdi.

Essa é a história contada no magnífico filme Khartoum - A Batalha do Nilo, de 1966, do diretor inglês Basil Dearden.

 
Já falamos da revolta Mahdista aqui no blog na postagem do também belíssimo filme Honra e Coragem (The Four Feathers), aquele das quatro penas brancas. Cronologicamente, Khartoum - A Batalha do Nilo é uma continuação daqueles eventos históricos.
 
 
 
O Sudão é um país africano localizado ao sul do Egito, cuja capital é Khartoum (ou Cartum). Nos idos de 1880 o líder religioso sudanês Muhammad Ahmad se auto-proclamou o Mahdi, o Esperado, dizendo ser descendente do Profeta Maomé. Ele reuniu uma multidão à sua volta, declarando uma "guerra santa" contra os egípcios, então dominados pela Inglaterra, e contra os cristãos infiéis de modo geral.   
 
 No entanto, no começo, seus seguidores não passavam de tribos da região e não possuíam armas o suficiente para causar danos de grandes proporções.
 
Muhammad Ahmad al-Mahdi
 
 
O Egito então enviou um exército de dez mil homens bem armados, comandados pelo militar inglês Coronel William Hicks. Naquela época o Egito era um protetorado britânico. Porém, Hicks não havia levando em conta a imensidão do rigoroso deserto daquele país, o que levou seu exército à exaustão. Ele também subestimou a inteligência e a capacidade de seu inimigo.
 
Assim, não foi difícil para os seguidores do Mahdi atacarem os egípcios, e dessa forma conseguirem os armamentos de que precisavam.
 
A derrota desse exército egípcio causou grande descontentamento à Inglaterra, principalmente ao então Primeiro Ministro britânico, William Gladstone, que se viu obrigado pela opinião pública e pela Rainha, a dar uma resposta à altura ou resolver logo aquela situação de risco em que se encontravam os civis no Sudão.
 
William Ewart Gladstone
Primeiro Ministro Britânico
 
 

A Inglaterra tinha a "responsabilidade moral" de cuidar da segurança dos egípcios, além de possuir o controle do Canal de Suez. No entanto, Gladstone não queria mais gastar dinheiro e recursos com os conflitos na África, muito menos se envolver com as questões políticas do Sudão.
 
Para não ficar numa situação ruim com o Egito, ele se comprometeria a retirando todos os  civis egípcios de Khartoum, mas sem mandar mais tropas britânicas e sem macular a honra da Inglaterra perante a opinião pública.
 
Ele é aconselhado então a enviar o General Charles Gordon, personagem principal do filme e herói britânico e sudanês.
 
General Charles George Gordon
 
Pachá Gordon, como era chamado no Sudão, foi um homem incrível, de uma personalidade extraordinária. Anos antes ele havia abolido a escravidão naquele país. Era um homem místico, cristão fervoroso, porém não seguia nenhuma religião. Naquela época havia o trabalho missionário de conversão cristã dos sudaneses.
 
No filme há uma cena bastante filosófica e que me marcou muito, onde um ex-escravo sudanês, agora serviçal de Gordon e convertido ao cristianismo, faz alguns questionamentos. Após ler o trecho da Bíblia onde Jesus diz que temos que oferecer a outra face quando recebemos um tapa, ele pergunta a Gordon por que os cristãos nunca fazem isso na prática, se esse é o ensinamento da religião cristã. Particularmente essa passagem me gerou uma série de reflexões...
 
Enfim, Gordon aceita a proposta de Gladstone para ir ao Sudão negociar com o Mahdi e trazer em segurança os egípcios que lá estão, e recebe o título de Governador Geral do Sudão. Só que ele é um homem idealista e insubordinado, além de amar o povo sudanês. Ele decide então subir o rio Nilo em direção a Khartoum e lutar pelo Sudão contra o Mahdi, exigindo que a Inglaterra lhe envie reforços militares.
 
Chegando a Khartoum ele vai até o Mahdi em seu acampamento para negociar a retirada dos egípcios da cidade, mas o líder mahdista, apesar de respeitar muito o herói britânico, lhe avisa que não permitirá a saída deles, e que todos terão que aceitar que ele é "o Esperado". Seus planos são ambiciosos: ele não quer rezar apenas nas mesquitas de Khartoum, mas também nas mesquitas do Cairo, Meca, Bagdá e Constantinopla, fazendo com que todo o povo muçulmano se renda ao seu poder místico. E ele está determinado a exterminar todos aqueles que não reconhecerem esse poder.
 
Gordon, que era engenheiro, começa o trabalho de fortificação da cidade e manda uma mensagem ao governo britânico dizendo que não deixará Khartoum, ficando lá como refém até que reforços militares sejam enviados. Cedendo à pressão da opinião pública, o primeiro ministro Gladstone decide enviar um exército ao Cairo.
 
Isso gera expectativas em Gordon e nos líderes tribais sudaneses que são seus aliados. Porém, e exército é enviado apenas para retirar Gordon de lá e não para ajudar o povo sudanês, como pensava o britânico. Ele decide ficar e lutar até a morte, que acontece pelas mãos de um seguidor do Mahdi. O exército inglês só chega dois dias depois.
 
 
 
O próprio Mahdi morre alguns meses depois após a tomada da cidade, mas o ódio dos muçulmanos contra os cristãos infiéis permanece até os dias de hoje, ainda mais forte.
 
Gordon também é mencionado no filme Lawrence da Arábia, já postado aqui no blog.