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O Novo Mundo

Jamestown, Virginia, 1606.

Os navios ingleses da Virginia Company, Susan Constant, Godspeed e Discovery, sob o comando do Capitão Christopher Newport, chegam ao povoado trazendo colonizadores em busca de riquezas e mão de obra indígena. O objetivo é estabelecer ali uma colônia, nos mesmos moldes das até então bem sucedidas colonizações espanholas nas regiões ao sul.
 
Porém, os desafios que os ingleses encontrariam ali seriam muito mais difíceis que os enfrentados pelos espanhóis. Diante desses desafios, o corajoso Capitão John Smith despontaria como o líder que os salvaria daquela situação, ao lado da índia Pocahontas, uma princesa, filha do líder local Wahunsunacock.
 
Essa história de amor que se mistura com a história da fundação dos Estados Unidos da América está contada no filme americano-britânico "O Novo Mundo", de 2005, do diretor americano Terrence Malick, trazendo o ator Colin Farrel no papel do capitão John Smith.
 



Diferentemente das Américas do Sul e Central, colonizadas por Hernán Cortéz e Francisco Pizarro, não havia abundância de ouro e prata na América do Norte, nem tampouco indígenas que pudessem ser facilmente dominados. Os desafios enfrentados pelos ingleses foram muito diferentes.
 
Em 1519 o conquistador espanhol Hernán Cortéz chegou ao México, onde conseguiu dominar os povos astecas matando o rei Montezuma, tornando-se o governador local. Lá ele encontrou ouro e estabeleceu instituições para exploração da mão de obra indígena, como a encomienda, a mita, o repartimiento e o trajin.
 
Essas instituições de exploração foram repetidas pelos espanhóis mais ao sul pelo explorador Francisco Pizarro, que em 1532 encontrou uma enorme mina de prata no Peru, e conseguiu dominar os povos incas, assassinando também o rei inca Atahualpa.
 
Todo esse ouro e prata tornaram a Espanha o país mais rico da época.
 
Já os ingleses tinha passado pela Guerra das Rosas, que resultou na ascensão da dinastia Tudor ao poder, e não estava em condições de disputar pelas regiões mais ricas em minérios, que eram as do sul, tendo que se contentar com as terras do norte, que tinham um valor bem inferior.
 
O ingleses chegaram em 1607 onde hoje é a cidade de Richmond.
 
 
A região já tinha recebido o nome de Virgínia pelo explorador Walter Raleigh em 1584, em homenagem a Rainha Elizabeth I, que, por nunca ter se casado, tinha o epíteto de "Rainha Virgem".  Ambos estão representados no filme "Elizabeth - A Era de Ouro". Nessa época Raleigh tentara sem sucesso colonizar a região.
 
Nessa nova tentativa de 1607, os ingleses adentraram a Baía de Chesapeake, subiram o rio que deram o nome de James, em homenagem ao Rei Jaime I, e fundaram um povoado ao qual deram o nome de Jamestown. Como a Rainha Elizabeth I não teve filhos, o sobrinho, filho da sua prima e grande rival, a católica Mary Stuart, Rainha da Escócia, era seu descendente direto e assumiu o trono inglês após sua morte. 
 
Ao chegarem, os ingleses  tentaram repetir o sucesso dos espanhóis e passavam o tempo escavando à procura de ouro. A expedição era formada por homens que não estavam dispostos a trabalhar pela subsistência, a não ser na busca pelo ouro. Achavam que, assim como os espanhóis, iriam conseguir uma rápida dominação sobre os indígenas. Mas nada disso aconteceu.
 
O território pertencia à Confederação Powhatan, que era uma coalização de grupos indígenas, fieis a um poderoso rei chamado Wahunsunacock. Ele tinha 12 esposas e 100 filhos.
 
A princípio o rei começou a investigar quais eram as intenções dos ingleses e, achando que logo eles iram embora, manteve relações cordiais com os recém chegados
 
Os ingleses pretendiam fazer com que os índios fornecessem víveres e mão de obra, mas também estavam dispostos a praticar com eles o comércio. Só não pretendiam trabalhar pela própria subsistência.
 
Um dos membros do conselho que governaria Jamestown era o experiente mercenário de 27 anos, John Smith. O jovem, que já tinha passado por muitas aventuras e perigos, começou então uma série de missões comerciais para assegurar o fornecimento de suprimentos essenciais para a subsistência dos colonos.
 
Numa dessas missões ele foi capturado pelos filhos e parentes do rei Wahunsunacock. Sua vida só foi poupada graças a intervenção de sua filha, a índia Pocahontas.
 
Smith passou então a viver e se relacionar com os índios, e desenvolveu grande admiração pela pureza dos nativos.
 
O rigoroso inverno de 1607, e os ingleses não dispunham de recursos suficientes para seu sustento. Aos poucos os ingleses foram morrendo por falta de alimentos e pelo frio, quando os índios vieram em auxílio trazendo alimentos e agasalhos.

John Smith logo percebeu que os ingleses não teriam ali o mesmo sucesso que os espanhóis tiveram ao sul. Notou que os índios locais não possuíam artefatos de ouro. Tudo o que conseguiram encontrar era pirita, o "ouro de tolo".

Ele concluiu que a colonização ali só seria viável se o próprios colonos começassem a trabalhar. Assim, pediu aos diretores da Virgina Company que as entre as novas levas de colonos estivessem carpinteiros, agricultores, hortelões, ferreiros, pescadores, pedreiros, e outros trabalhadores dispostos a construir o povoado.



Os estúdios Disney também contaram essa bela história na animação Pocahontas, de 1995, e na continuação Pocahontas II, de 1998.


 



Os escritores Daron Acemoglu, premiado professor de Economina do MIT, e James. A. Robinson, economista, cientista político e professor em Harvard, utilizaram essa história no livro "Por Que as Nações Fracassam" (título original: "Why Nations Fail") para ilustrar como a diferença entre o modelo de colonização inglês e espanhol tiveram influência no destino dos países colonizados, representada pelo abismo que existe no desenvolvimento da América Latina e da América do Norte.