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Santo Agostinho

 Filme de 1972, do diretor italiano Roberto Rosselini, traz o ator argelino Dary Berkani no único papel de sua carreira como ator, como o patrístico Santo Agostinho de Hipona.







Livro: "Confissões" de Santo Agostinho





Introdução

Nascido em 13 de novembro de 354 d. C., na cidade de Tagaste, na então Numídia (atual Argélia, no norte da África), Aurélio Agostinho era o filho primogênito de Patrício, um decurião* do município e da católica Mônica, pais também de Navílio e mais uma filha.

*decurião: cargo público romano

Temperamento impetuoso e sensual herdado do pai, porém com ternura e tendência à contemplação mística, o que herdou da mãe.

Patrício era pagão mas pediu para ser batizado antes de sua morte.

Agostinho não foi batizado cedo para que seus pecados pudessem ser purificados no batismo.

Ainda na infância foi estudar em Madaura para ser um "retórico", professor de letras e eloquência. 

Em 369, aos 15 anos, volta para Tagaste onde passa a ter uma vida ociosa e mundana.

Em 370, com a ajuda de um rico amigo da família, Romaniano, vai estudar em Cartago, capital da África Romana.

Em Cartago estuda retórica, dialética, geometria, música e matemática. Mas também se entrega aos prazeres da vida.

Passa a viver com uma mulher de casta inferior, e por isso não pode se casar com ela. Em 372 (18 anos) tem com ela o filho Adeodato.

Em 374 (20 anos) entra para a seita dos maniqueus em busca da "verdade" (atitude racionalizante e moral cômoda). A mistura de crenças o incomoda mas permanece na seita por 9 anos, o que aborrece muito sua mãe.

Sente-se também atraído pela astrologia e neo-platonismo.

Após a morte do pai ele volta para Tagaste para cuidar da família e dar aulas. Entre seus alunos está Alípio.

Permanece apenas um ano em Tagaste e novamente com a ajuda de Romaniano vai para Cartago, onde abre uma escola de retórica.

Escreve "Do Belo e do Conveniente".

Em 383 (29 anos) embarca para Roma sem o conhecimento da mãe com a ajuda dos maniqueus.

Em 384 (30 anos) vai para Milão onde conseguiu uma cátedra para lecionar. 

Em 387 (33 anos) converte-se ao catolicismo por influência da mãe e do bispo Ambrósio, que o batiza juntamente com Alípio e seu filho Adeodato.

Em 388 decide voltar para Tagaste para fundar uma comunidade católica mas a mãe morre no caminho, em Óstia.

Em 389 seu filho Adeodato morre, aos 17 anos.

Em 391 o bispo Valério, de Hipona, o convida para ser seu ajudante no ministério da pregação.

Em 395 é ordenado bispo.

Em 396 (42 anos) substitui Valério na diocese de Hipona. Escreve "Régula ad servos Dei".

Em 430 o rei vândalo Genserico cerca a cidade de Hipona. Três meses depois, em 28 de agosto de 430, A. morre com 76 anos de idade.

Tinha uma saúde precária, sofria de insônia, mas apesar disso desenvolveu grande volume de trabalho.

Em busca da verdade e da resposta para a questão "por que o mal?" abraça o maniqueísmo mas encontra a resposta primeiramente no platonismo: o mal é a privação do ser, é limite, é carência. 

Enfrentou  o "cisma de Donato", que começou em 393 e as relações da igreja com os poderes públicos. 

Em 411 houve uma conferência pública de bispos em Cartago, com 279 donatistas e 286 católicos, onde Agostinho teve papel de destaque.

Passou também pelo antipelagianismo e nos últimos anos de sua vida refutou a heresia do arianismo que voltava juntamente com as invasões bárbaras.

Escreveu 93 tratados em  232 livros, 500 sermões e 217 cartas como enumera em Retractationes. 

Entre 397 e 398 escreve "Confissões", obra de mística elevada e grande valor literário, que exprime o drama da alma que se redime.

Os nove primeiros capítulos são autobiográficos. O décimo capítulo analisa sua posição ético-religiosa, fala sobre a memória e consciência. Os capítulos faz uma exegese do Gênesis, sobre o tempo e a eternidade e auto conhecimento para chegar ao Senhor. 


I Livro - Do Nascimento aos Quinze Anos

1. Invocação a Deus

Dilema: invocar ou louvar? 

Conhecer ou invocar? Quem invocará sem antes conhecer?

2. Como e por que invocar a Deus?

Dilema: Se Deus está em tudo então já está em mim. Onde Ele não estaria para que eu precisasse invocá-lo?

3. Deus está em todas as coisas e nenhuma o contém

Tudo contém Deus e Ele está em tudo. Além do céu e da terra, até onde mais vai a extensão de Deus? 

4. Deus é inefável (indescritível)

Sobre a completude de Deus.

"... Imutável que tudo muda

Nunca novo e nunca antigo, tudo inovando

Conduzindo à decrepitude os soberbos sem que disso se apercebam

Sempre em ação e sempre em repouso

Recolhendo e de nada necessitando..."

5. Desejo de Deus

Reconhecimento da sua infinita pequeneza diante de Deus, e pedido por purificação e por expansão da alma, morada muito estreita.

6. Mistério da natureza humana e sua finitude. Deus é eterno

Sobre a vinda da criança a esse mundo sem saber de onde, para uma vida mortal, ou uma morte vital.

O leite materno recebido que não vinha da mãe e das amas mas sim de Deus, e que era mais do que suficiente e abundante. 

Nada se lembra da tenra infância, mas pelo que contavam e pela observação de outras crianças, Agostinho relata suas primeiras emoções, de rir e chorar, manifestar seus desejos.

Ele pergunta a Deus o que era antes de vir para essa vida, se já tinha vivido e morrido antes, e essa resposta não encontrava em lugar algum. Questão a respeito da doutrina neoplatônica sobre a préexistência da alma.

7. Agostinho recorda os pecados cometidos na infância

De acordo com sua visão pessimista a respeito do ser humano, aponta já na criança os traços da maldade, da cobiça, da inveja e do pecado. 

8. Como aprende a falar

Agostinho narra como foi seu processo de aprendizagem da fala, que diferentemente da leitura, que foi ensinada pelos mais velhos, essa foi espontânea, graças à inteligência vinda de Deus.

9. Falta de interesse pelo estudo; castigo e zombaria dos educadores

Sobre como preferia o menino Agostinho gastar o tempo destinado aos estudos jogando bola e brincando com os amigos, e por isso era duramente punido com castigos que para ele equivaliam à tortura. Enquanto que aqueles que o castivam também cometiam semelhantes delitos porém compatíveis com o mundo adulto. 

10. Prefere o jogo e o teatro ao estudo

Sobre como o prestígio e o orgulho da vitória conquistados pelos que se sobressaíam nos jogos, que os pais chegavam a desejar essa condição para seus filhos, mesmo que se afastassem dos estudos. Mesma coisa com a sedução de histórias frívolas que despertavam tanta curiosidade.

11. Adiamento do batismo

A decisão de um batismo tardio foi tomada por sua mãe, sabedora das tentações que a vida estaria  preparando a seu filho. A família acreditava que era melhor pecar antes de ser batizado e obter a redenção no batismo, porque depois o delito seria mais grave.


12. Deus tira o bem até do mal

Agostinho não gostava de estudar e era coagido por seus professores. Mais tarde compreendeu que aquelas punições eram justas e vinham na verdade de Deus, para que ele pudesse se tornar uma pessoa melhor.


13. Utilidade do estudo

Agostinho não gostava de estudar particularmente o grego e nem mesmo as primeiras lições de latim, onde se aprende a ler e a escrever. Gostava mesmo de decorar histórias como as da obra A Eneida, de Virgílio, e se emocionava mais com o trágico destino da rainha Dido, que ceifou a própria vida por causa do amor não correspondido de Eneias, do que com os ensinamentos sobre nosso Senhor.


14. Dificuldade no estudo do grego

Sobre como foi mais fácil o aprendizado do latim, motivado pela curiosiodade e pela necessidade de se expressar, do que o grego que era obrigado a aprender e castigado com a palmatória. 

Conclui que "para aprender é mais eficaz a livre curiosidade do que um constrangimento ameaçador."


15. Oferecimento de tudo a Deus

Agostinho entrega a Deus em confissão o peso de todos os seus pecados, pede forças para que vença as tentações do mundo e para que possa somente O servir.


16. Literatura e mitologia corruptoras

Agostinho faz uma crítica aos poemas de Homero que tanto influienciaram os homens com os maus exemplos dos vícios dos deuses, e com os quais justificavam seus próprios comportamentos.

"Homero imaginava essas ficções e atribuía aos deuses os vícios humanos; eu preferia que nos trouxesse as perfeições divinas."


17. Inteligência desperdiçada em coisas vãs

Agostinho conta como se dedicava a interpretar cenas do poema "A Eneida", de Virgílio, desperdiçando assim a sua inteligência, presente de Deus.


18. Um erro de gramática é mais grave que uma falta contra o homem?

Agostinho se impressiona muito com o fato de que pesa mais a falta de um erro gramatical banal do que uma ação contra uma outra pessoa, um semelhante e filho de Deus.

19. Os primeiros pecados da infância

Aqueles pequenos delitos cometidos pelas crianças, como furtar um alimentos, pequenas trapaças punidas muitas vezes com a palmatória, que vão consolidando na formação do caráter e que na idade adulta tomam maior vulto com punições mais sérias também.

20. Tudo é dom de Deus

Agostinho agradece a Deus pelos múltiplos dons e roga a Ele que os conserve para que estejam sempre em favor da Sua glória.


II Livro - Os Dezesseis Anos

1. Por qual motivo Agostinho relembra suas culpas

Agostinho realiza essa árdua tarefa de revisitar as fraquezas de seu passado,  relembrando de como desgastava a beleza de sua alma enquanto tentava agradar somente a si mesmo e aos outros.


2. Necessidade de amor e de seus ilusórios sucedâneos

Agostinho se arrepende de ter se entregado às paixões, à natureza da puberdade, afastando-se cada vez mais de Deus e do comportamento correto, que deveria ser através do matrimônio.


3. O ócio favorece o desencadeamento das paixões

Aos dezesseis anos Agostinho, precisa voltar de Madaura, cidade próxima a Tagaste onde estava estudando literatura e oratória. Mas as condições financeiras da família o fizeram retornar para a casa para que pudessem juntar recursos para enviá-lo posteriormente a Cartago para um estudo de melhor qualidade. O pai era muito zeloso pela educação do filho mais velho. 

Nesse um ano de ócio, sem estar na escola, Agostinho se entrega aos prazeres da sua idade, para preocupação de sua mãe, que também não queria que ele se casasse para que não atrapalhasse os estudos.

4. O furto das peras

Agostinho conta como certa noite depois de ficar na praça até altas horas com os amigos, no ócio, decidiram então furtar os frutos de uma pereira, não para saciar a fome ou porque precisassem, mas apenas para praticar o mal, o proibido. Apenas pela desonestidade por si só.


5. A causa do pecado

Agostinho explica que o pecador sempre tem uma justificativa, algo ou alguma desculpa, alguma sedução ou atração de bens inferiores que afasta o homem do Senhor. 

Ilustra suas argumentações com o exemplo das conspirações do senador romano Catilina (108 a 62 a.C), que acreditava ter razões para cometer seus crimes.


6. As paixões dão satisfações ilusórias; somente Deus pode saciar as exigências do espírito humano

Agostinho ainda reflete sobre o motivo de ter roubado a peras apenas para poder sentir "uma tenebrosa paródia da onipotência de Deus", sobre qual foi a origem da sedução daquele delito.

Fala sobre os sentimentos humanos de ambição, a crueldade, a curiosidade, a ignorância, a preguiça, a luxúria, a prodigalidade, a avareza, a inveja, a cólera, a vingança, o temor, a tristeza, e como todos eles só encontram seu fim último em Deus.


7. A bondade de Deus preserva-nos das culpas e nos perdoa as culpas cometidas

Agostostinho é grato a Deus pelo perdão dos pecados que cometeu e por aqueles pecados que deixou de cometer por intervenção divina, pois sua alma era pecadora e certamente cometeria ainda mais faltas dos que as que de fato foram realizadas. 

Como um médico que cura a doença mas que também prescreve um tratamento preventivo, assim também Deus intervem sobre a alma em busca de salvação.


8. A atração do pecado

Ainda sobre o furto das peras, Agostinho conclui que não teria cometido o delito se estivesse sozinho. Foi na companhia dos amigos que sentiu-se mais à vontade para seguir em frente, seduzido também pela cumplicidade que nascia da prática daquele ato tão mau.


9. A influência das más companhias

Ainda envergonhado e arrependido, Agostinho reitera que se uniu à "amizade tão inimiga" para praticar o mal, pois se divertiram e riram com o ocorrido. E lebra também da vergonha que sentiria perante aos companheiros caso se recusasse a acompanhá-los.


10. Aspiração à paz interior

Sobre a paz da alma que alcançou somente no Senhor.


III Livro - Jovem estudante

III.1. Amores sensuais

Agostinho vai a Cartago para estudar e lá se depara com os prazeres do mundo, do amor físico. Mas sua alma estava doente, coberta de chagas, sentia-se vazio e enfastiado. Em meio à alegria das paixões via-se amarrado por laços de sofrimento, de ciúmes, temores e cóleras.


III.2. O teatro alimenta a sede de sensações

Sobre como adorava assistir no teatro ao espelho de suas misérias e sofrimentos, e a acontecimentos tristes e trágicos que jamais desejaria sentir na vida real. Conclui que se tratava de deplorável loucura. 

Mas, num exercício de lógica, partindo do princípio que de que todos gostamos de sentir compaixão, e o sofrimento alheio tem o poder de despertar esse sofrimento, portanto esse seria o motivo de o espectador gostar tanto de experimentar as sensações provocadas pelo teatro.

Assistir a tais espetáculos era para ele como cutucar uma ferida a ponto de infeccioná-la. 


III.3. Agostinho não segue os companheiros em todos os seus excessos

Apesar de desfrutar da companhia de quem ele chama de "arruaceiros", não chegava a se comportar totalmente como eles, que se divertiam fazendo maldades e chacotas com os mais ingênuos, mas que serviriam depois de chacota também para os maus espíritos que os seduziam.

Destacava-se no estudo da retórica para inflar seu orgulho e vaidade. No entanto o uso que fazia de tal conhecimento não era sempre o mais honesto.


III.4. O Hortêncio de Cícero desperta em Agostinho o amor à sabedoria

Aos 19 anos de idade (há dois havia falecido seu pai, Patricio) Agostinho se encanta com o conteúdo do livro "Hortêncio", do filósofo e político romano Cícero (106-43 a.C.), uma exortação à filosofia.

Agostinho passou a "aspirar com todas as forças à imortalidade que vem com a sabedoria". Só não tem o livro em ainda maior consideração por causa da ausência de Cristo na obra.


III.5. Primeira aproximação às Sagradas Escrituras

Ao se deparar coma as Sagradas Escrituras Agostinho encontrou um livro que julgou indigno de ser comparado com a majestade de Cícero. 

Só mais tarde, dobrando seu orgulho, conseguiu percerber um livro envolto em mistério, inicialmente humilde mas que proporciona uma grande recompensa, mas que não se abre aos soberbos.

Mas Agostinho demorou a entender que era preciso muita humildade para obter essa revelação.


III.6. Adesão ao maniqueísmo

Em busca da "verdade" Agostinho é seduzido pela doutrina maniqueísta. Tinha fome da verdade de Deus mas era alimentado apenas de falácias sobre "o sol e a lua", que são apenas suas criaturas, e nem são as mais importantes. Tais fantasias o alimentavam mas não o saciavam. 

As fábulas, os versos e a poesia sobre o vôo de Medéia seriam mais úteis que as mentiras maniqueístas. Mas ele só pôde ser influenciado porque estava exposto e vulnerável caminhando cada vez mais longe de Deus.


III.7. O desatino dos maniqueus - O problema da moralidade

Já refutando o pensamento maniquísta, que estabelecia que o Bem e o Mal era duas forças equivalentes. Agostinho conclui que" o mal é apenas privação do bem, o nada absoluto".

Os maniqueus se incomodavam com o Antigo Testamento e censuravam os patriarcas Abraão, Isaac, Jacó, Moisés e Davi, mas Agostinho coloca a noção dos costumes de cada tempo. Não podemos julgar os costumes de outros tempos com as balanças atuais. Assim como cada parte de uma armadura se adapta a cada membro do corpo, também o que era permitido ou proíbido em outro tempo pode não ser agora.

Mas ainda assim a justiça não é desigual e mutável, os tempos é que caminham junto


III.8. Fundamentos naturais da moral

Mas os fundamentos não são imutáveis, como por exemplo, "amar a Deus e ao próximo como a si mesmo", e também os crimes contra a natureza como os de Sodoma.


III.9. É difícil julgar os homens

Algumas vezes uma ação mais dura do homem é necessária, sendo até mesmo uma manifestação do próprio Deus, quando por exemplo a autoridade que pune para corrigir o culpado. Diferente de quem precisa castigar e sente prazer ao fazê-lo.


III.10. Estranhas doutrinas dos maniqueus

A questão da alimentação era muito séria para os maniqueístas. Agostinho chegou a acreditar em tolices como a de que um figo chora lágrimas de leite ao ser colhido, como também sua mãe a figueira. Mas esse figo ingerido por um "eleito", através de orações, gemidos e soluços se transformariam em anjos e e até em partículas de Deus.


III.11. Pranto e sonho de Mônica

Assim como hoje em dia uma mãe sofre muitíssimo ao ver um filho seu se perder no mundo dos vícios e das drogas, também Mônica lamentava pela alma de Agostinho, ao vê-lo se afundar cada dia mais nas trevas e no lamaçal do maniqueísmo.

Mas a casta viúva jamais deixou de orar muito por ele e certa vez teve um sonho de que ele estaria ao seu lado novamente um dia. Agostinho de imediato interpretou o sonho como sendo sua mãe vindo para o seu lado, compartilhando das suas crenças, ma Mônica foi rápida e sagaz ao responder:"não me foi dito  'onde ele está, aí estarás tu' mas 'onde estás, aí estarás também ele'".

Agostinho permaneceu ainda nove anos na seita dos maniqueus até que as súplicas de sua mãe foram enfim atendidas.


III.12. Resposta de um bispo

Sempre que Mônica encontrava um líder religioso ela pedia que ele fosse ter com Agostinho uma conversa para tentar dissuadi-lo de suas crenças nos maniqueus. Até que um certo bispo disse que ela apenas orasse por ele, pois um dia ele iria concluir por si só e por vontade própria abandonaria aquela heresia.


IV Livro - O professor

IV.1. Seduzido e sedutor

Nos nove anos que se seguiram desde que entrou para a seita dos maniqueus, dos 19 aos 28 anos, Agostinho diz que muitas vezes foi “seduzido e sedutor, enganado e enganador”, além de soberbo, supersticioso e vaidoso. Buscava os prêmios nos concursos de poesia e os prazeres no desregramento das paixões.

Para se purificar dessas manchas levava alimentos aos eleitos (sacerdotes maniqueus) para que estes, nas oficinas de seus estômagos, fabricassem anjos e deuses que o libertassem.

IV.2. O professor de retórica. O amor de uma mulher

Agostinho passou a ensinar retórica “vendendo tagarelices para ensinar a ganhar causas”, muitas vezes para salvar a vida de um culpado.

Viveu também ao lado de uma mulher com quem não se uniu em matrimônio mas a quem era fiel.

Uma vez ia participar de um concurso teatral e um “adivinho” ofereceu seus serviços mágicos em troca de dinheiro, para que ele saísse vencedor. A prática consistia em imolar (sacrificar) animais para obter o auxílio de demônios. Agostinho recusou veementemente e disse que jamais permitiria que fosse imolada nem sequer uma mosca para que ele ganhasse uma coroa, ainda que fosse de ouro.

Mas esse repúdio ainda não era por temer a Deus, e sim por não concordar com tais abominações. No entanto, pela superstição que praticava na sua doutrina, ele mesmo se imolava aos espíritos diabólicos, dando-lhes com seus erros motivos para alegrias e satisfação.

IV.3. Interesse pela astrologia

Agostinho gostava de consultar os astrólogos, que depois passou a chamar de "embusteiros", prátigca rejeitada e condenada pela verdadeira piedade cristã. Eles diziam que "pecar é inevitável e a causa era obra  de Vênus, Saturno ou de Marte, inocentando assim o homem, que é carne, sangue e orgulhosa podridão." E, como Deus criou esses astros, portanto a culpa final recairia sobre o criador.

Eis que então apareceu um notável ancião, um médico que substituindo o cônsul laureou Agostinho com a coroa de um concurso de poesia. Ele e Agostinho se tornaram muito próximos. Quando ele soube que Agostinho tinha esse hábito de consultar livros de horóscopo, falou com ele paternalmente e o aconselhou a jogá-los fora e não perder mais tempo com coisas vãs. Disse que Agostinho não precisava daquele tipo de conhecimento e muito menos de ganhar algum dinheiro com ele.

Agostinho perguntou então por que alguns presságios se realizavam e o médico respondeu que era apenas o acaso, e que qualquer poema em algum momento pode se harmonizar com alguma situação real, mas nem por isso tratava-se de uma profecia.

Mas Agostinho ainda demoraria algum tempo antes de se convencer da verdade.


IV.4. A morte de um amigo: desconsolo de Agostinho

Logo que começou a dar aulas em Tagaste, Agostinho se aproximou muito de um amigo de infância da mesma idade, com muitos interesse de estudo em comum. Ele acabou levando o amigo para a mesma religião, afastando-o da fé. Um ano depois esse amigo foi acometido por uma forte febre, e estando desacordado, recebeu o batismo à revelia, já desenganado.

Porém o rapaz recobrou o ânimo e acordou com saúde. Agostinho riu e fez pouco do sacramento que o amigo tinha recebido e achou que ele também acharia graça do ocorrido. Mas o jovem não permitiu esse comportamento de Agostinho que ficou sem saber como agir. 

Uma semana mais tarde, veio então outra febre e o levou para junto do Senhor, para tristeza profunda de Agostinho.


IV.5. Pranto consolador

Agostinho fala de como é doce o pranto que acalenta o sofrimento.


IV.6. Desgosto da vida e medo da morte

Apesar do profundo desgosto de perder o amigo, a quem muito amava e definiu como metade de sua alma, Agostinho não queria morrer, não porque amasse a vida mas porque temia muito a morte. 

Ele faz uma comparação com Orestes e Pílades*, e disse que não faria como os amigos que preferiam morrer juntos a viver um sem o outro. Disse que ele e o amigo eram um só corpo e ele agora "detestava a vida pois não queria viver partido ao meio, e temia a morte, por não que morresse interamente alguém que ele tanto amara".

* Orestes era filho do rei Agamemnon com Clitemnestra, e irmão de Electra e Ifigênia. Quando voltou vitorioso da guerra de Troia, Agamemnon foi morto pela esposa e seu amante, Egisto. (ver filme "Electra - A Vingadora", aqui do blog). Orestes então viveu exilado nas terras do pai de Pílades, e os dois viveram também uma forte apaixonada amizade.


IV.7. Necessidade de mudar de ambiente: Agostinho deixa Tagaste

Agostinho não encontra  prazer em mais nada, sofre muito pela perda do amigo e decide se mudar para Cartago. Recusava-se a elevar sua alma a Deus e a entregava a um "fantasma irreal". 


IV.8. A vida recomeça

Agostinho segue sua vida ainda sofrendo mas encontrando algumas alegrias junto aos seus companheiros da seita dos maniqueus. Refletido muito depois ele atribui tal sofrimento ao fato de "ter derramado a alma na areia, amando uma criatura mortal como se imortal fosse". 


IV.9. Feliz quem ama a Deus

Agostinho conclui que quem ama a Deus ama também o amigo e o inimigo, portanto não perde nenhum ente querido aquele a quem todos são queridos. Somente perde a Deus quem o abandona. E quem foge da bondade de Deus corre para a Sua cólera. 


IV.10. Destino efêmero das criaturas

Agostinho fala sobre a finitude de tudo o que existe. Essa é uma condição imposta por Deus, a de que nem todas as coisas podem existir simultaneamene. Assim como na fala, as palavras precisam precisa terminar para que comece outra e assim a frase possa fazer sentindo, também tudo o que existe nasce e morre. Nem tudo envelhece, mas tudo morre. 

Desde o momento que nascem e começam a existir e crescem para o ser, também correm para o não ser.  O universo é composto por coisas que vão aparecendo e desaparecendo, sucedendo-se umas às outras. Porque para Deus, na criação das coisas disse "Daqui até ali".


IV.11. Só Deus é estável

Agostinho aconselha sua própria alma, dizendo novamente que todas as coisas passam para dar lugar a outras e assim formar o universo das realidades inferiores. Somente Deus é estável e Nele devemos ancorar nossa morada, para assim nada perder, reflorir tudo o que está apodrecido, as doenças curadas e as fraquezas reparadas para que não nos arrestem para o abismo.

Fala ainda que a carne deve seguir a alma, e assim como essa também  deve ser convertida, para que não sinta apenas as partes mas sim o todo, como não se deseja parar as sílabas e sim que elas passem para que formem o pensamento.


IV.12. Exortação à procura da felicidade em Deus

Agostinho mostra como procuramos a felicidade em lugar errado se não for em Deus. Fala sobre o Cristo, que veio de um lugar inacessível, entrando primeiro no seio da virgem para unir-se à natureza humana, e já em vida clamou com palavras e obras, com a morte,  com a descida aos infernos e com a ascensão, para que tornássemos a ele. Não quis estar conosco por muito tempo mas não nos abandonou. 


IV.13. Do belo e do harmonioso

Agostinho faz uma reflexão sobre o que é a beleza, e sobre a sintonização com outros corpos, a harmonia. Sobre esse tema chegou a escrever dois ou três livros, mas depois da conversão deixaram de ser importantes.

IV.14. Homenagem a Hiério

Agostinho fala de sua admiração por um orador romano chamado Hiério, que não conhecia pessoalmente, apenas pela sua fama. Hiério era sírio de nascimento, hábil orador em grego e latim, e também grande conhecedor da filosofia. 

Agostinho tece elucubrações sobre o real motivo de sua admiração, se era por seu trabalho ou pelo que os outros falavam dele. Tinha o desejo de ser como ele e ainda mais, de ganhar sua aprovação. Uma crítica negativa daquele orador teria sido devastadora para ele. 

Agostinho dedicou a ele uma obra sua sobre beleza e harmonia. 


IV.15. Complacentes elucubrações de Agostinho; Deus resiste aos soberbos

Agostinho definia o belo como o que é bem feito em si, e o conveniente como o que é harmonioso em relação aos demais objetos. 

Fala sobre virtude do vício. 

Nota uma "unidade" da virtude, onde reside a "alma racional, essência da verdade e do sumo bem", uma inteligência assexuada. Essa unidade ele chamava "mônada".

Já no vício percebe certa "divisão", onde há o princípio da vida irracional, e substância e essência de sumo mal, ira e prazer no vício. Essa divisão ele chamava "díade".

Agostinho se esforçava para se aproximar de Deus, mas era por Ele repelido, pois Deus resiste aos soberbos. 

Tinha 26 ou 27 aos quando escreveu "Do Belo e do Conveniente".


IV.16. As dez categorias de Aristóteles

Agostinho tinha 20 anos quando leu "As Dez Categorias", de Aristóteles (384-322 a.C.). Nessa obra o autor separa a realidade em duas categorias fundamentais: a substância e as propriedades, que são nove. 

As propriedades são: qualidade, quantidade, relação, local, tempo, posição, posse, ação e paixão.

Agostinho tinha facilidade com esses assuntos e com todos os outros temas das artes liberais, dialética, geometria, música e aritmética. Sua grande inteligência tinha sido um presente de Deus mas que para ele nada servia já que vivia uma vida afastada de Deus. Preferia olhar para os objetos iluminados pela luz divina do que olhar diretamente para a luz que era Deus. Agostinho se arrepende e pede perdão por isso.


V Livro - Da África à Itália

V.1. Louvor ao Deus das misericórdias

Agostinho louva a Deus e a Ele oferece suas confissões. 

V.2. Presença de Deus consolador

Agostinho faz uma reflexão de para onde iriam aqueles que se afastam do Criador, sem que ele os pudesse ver. Não existe tal lugar pois Deus está em todo lugar, sempre pronto para enxugar as lágrimas daqueles que se arrependem de seus erros.

V.3. Encontro com Fausto, bispo maniqueu

Agostinho conta como conheceu, aos 29 anos de idade, o bispo maniqueu chamado Fausto, muito influente e eloquente, de quem já tinha muito ouvido falar.

Por serem hábeis na leitura dos astros, os maniqueus podiam prever com bastante antecedência e precisão os eventos celestes que tanto impressionavam as pessoas comuns, como eclipses do sol e da lua, equinócios e solstícios. Só não percebiam o próprio eclipse, ao não questionarem de onde vinha aquela inteligência, e mesmo se concordassem que ela vinha de Deus, soberbos que eram, não admitiam devotar esse dom ao criador.

Agostinho começa a ter dúvidas sobre os ensinamentos de Mani, mas não contesta de imediato.


V.4. Ciência humana e fé divina

Para Agostinho, de nada adianta conhecer a ciência e não conhecer a Deus. Se fosse para escolher um ou outro, melhor seria escolher conhecer a Deus. Saber medir pesos e dimensões dos elementos, saber o curso da Ursa Maior, de nada vale se não for para buscar aquele que criou tudo isso.

V.5. Manés se apresenta como pessoa divina

Para Agostinho melhor era ter o conhecimento da piedade do que o conhecimento dos assuntos escritos por Mani. Mas no começo, a fama e santidade de Mani era tanta que se antepunha à fé de Agostinho.

V.6. Personalidade de Fausto

Durante nove anos Agostinho espero por uma oportunidade de estar em presença do bispo maniqueu Fausto, para conversar com ele sobre suas dúvidas e questionamentos, que nenhum outro membro da seita sabia responder ou argumentar de forma satisfatória. Todos diziam que quando estivesse com Fausto, esse iria resolver todas aquelas questões.

Pois bem, eis que chega Fausto em Cartago e Agostinho consegue uma audiência com ele. Realmente se tratava de um orador de grande eloquencia, falava de forma agradável e atraente.

Mas Agostinho não queria mais saber apenas de linguagem burilada, queria respostas. Ele compara a "verdade" dita com ou sem um bom estilo, aos alimentos bons e ruins que podem ser servidos em pratos finos ou grosserios.

Agostinho percebe que Fausto não era um erudito, não conhecia as artes liberais, a não ser o básico de gramática. Tinha parca leitura das grandes obras  

V.7. O maniqueísmo começa a desiludi-lo

Percebendo que o bispo Fausto não seria capaz de elucidar suas dúvidas, Agostinho deixa de criar grandes expectativas em relação ao maniqueísmo. Mantem com Fausto uma relação amistosa, mas suas conversas passaram apenas no campo da literatura. O próprio bispo reconheceu que não poderia oferecer a Agostinho as respostas que ele procurava. Teve humildade e honestidade intelectual para isso.

Agostinho decide permanecer na seita até encontrar outro caminho que apresentasse melhores explicações. 


V.8. Partida para Roma

Desanimado com sua vida em Cartago, onde dava aula para alunos indisciplinados, Agostinho decide se mudar para Roma, onde ouvira falar que os estudantes tinham um comportamento muito mais civilizado. Foi acompanhado de alguns amigos e contra a vontade de sua mãe, a quem enganou no momento da partida e que ficou se lamentando muito.

Com esse afastamento Deus estava na verdade preparando Agostinho para que as preces de Mônica fossem então atendidas e mesmo suplantadas.


V.9. Chegada a Roma. Mônica reza de longe

Em Roma Agostinho caiu doente, quase à beira da morte. Ainda sem o batismo, sua alma correu sério risco pois os pecados eram muitos e ele ainda não conseguia acreditar que o Cristo tinha vindo para salvar os homens, na verdade o considerava um fantasma,  já que no maniqueísmo, por acreditarem que a matéria é o mal, Jesus não teria tido um corpo de verdade, mas apenas uma espécie de holograma.

Na África Mônica ainda rezava muito pela salvação de seu filho e logo Agostinho se recuperou, escapando da morte corporal, mais ainda muito próximo da morte de sua alma. 


V.10. Entre o maniqueísmo e ceticismo acadêmico

Agostinho havia se recurperado estando hospendado nas casa de amigos maniqueus. Continuava a visitar os "eleitos", mas já sem grande devoção, aguardando que uma outra doutrina surgisse para suprir seus questionamentos.

Filósofo que tinha em alta conta, como Cícero, afirmavam que era preciso duvidar de tudo e que o homem nada poderia compreender da verdade. 

Ainda acreditava que o mal era uma substância oposta a Deus, porém de menor tamanho.


V.11. Os Maniqueus e as sagradas escrituras

Agostinho começa a se interessar pelo conteúdo das Sagradas Escrituras mas ainda é muito influenciado pela opiniões dos  maniqueus. Mas já presta mais atenção aos debates nos quais os maniqueus usam argumentos muito fracos, ou ainda nem o fazem em público. 

V.12. Comportamento dos estudantes romanos

Lecionando em Roma Agostinho passa a ser traído pelos alunos que encontram formas de trapasseá-lo para não pagarem pelas aulas, o que o deixa muito decepcionado.

V.13. Encontro com Ambrósio em Milão

A administração de Milão solicita a Roma um professor de retórica, e com a ajuda dos maniqueus, Agostinho consegue a cátedra.

Em Milão ele conhece o bispo católico Ambrósio, também hábil orador e que recebeu Agostinho como um pai. Agostinho desenvolveu grande admiração pelo bispo, inicialmente apenas pela forma com que ele expressava seus pensamentos, ainda não pelo conteúdo, que na verdade desprezava, embrigado que estava pelas doutrinas maniqueístas.


V.14. Afastamento do maniqueísmo

O bispo Ambrósio tinha um jeito muito particular de interpretar as passagens bíblicas, em especial as do Antigo Testamento, diferente de tudo o que Agostinho já tinha escutado.

Ele não interpretava ao pé da letra mas de forma alegórica, buscando significado espiritual aos fatos narrados.

Aqueles ensinamentos aos poucos foram sendo absorvidos por Agostinho, mas ainda não de maneira que permitisse sua imediata conversão. Mas abandona de vez o maniqueísmo e passa a acompanhar a doutrina calólica como "catemúmeno", ou seja, como estudante de conhecimentos preparatórios preliminares para poder se tonar um verdadeiro fiel quando chegasse o momento.


VI Livro - Agostinho aos trinta anos

VI.1. Mônica encontra-se com o filho em Milão

Agostinho fala que já havia perdido a esperança de encontrar a verdade, pois a estava procurando fora dele mesmo, fora de seu coração. 

Fala também que sua mãe Mônica tinha em seu encontro em Milão, que durante a navegação, sua certeza era tão grande de que chegaria a salvo que era  ela era quem acalmava os próprios marinheiros experientes nos momentos mais críticos em alto mar.

Quando chegou, Mônica encontrou o filho já afastado do maniqueísmo mas ainda muito longe da conversão que ela rogava a Deus todos os dias. Mas ela estava confiante de que isso em breve aconteceria pois tinha plena confiança nas promessas divinas, e intensificou ainda mais as suas preces.

Ela tinha o bispo Ambrósio em alta conta, por ter sido ele o responsável pelo resgate da alma de seu filho, que se encontrava naquele momento crítico como chamam os médicos, de passagem da doença para a saúde.


VI.2. Mônica e Abrósio

Mônica continuou a praticar em Milão um ritual que estava acostumada a realizar na África: levar bolo, pão e vinho para as sepulturas dos santos. 

Mas esse costume da "libação" tinha sido proibido pelo bispo Ambrósio, para evitar que os fiéis fossem incentivados a se embriagar, e também porque esses rituais se pareciam muito com outros ritos pagãos.

Ao contrário do que era do feitio de Mônica, muito questionadora que era, ela aceitou de bom grado a imposição do bispo e passou a levar para o túmulo dos santos apenas um coração cheio dos mais puros sentimentos. Mas ela se dobrou tão facilmente apenas por se tratar de Ambrósio, que ela tanto estimava, e não outra pessoa.


VI.3. Figura de Ambrósio

Agostinho lamenta aqui por encontrar uma certa dificuldade em estabelecer com Ambrósio a comunicação de que precisava e desejava, pois precisaria de tempo, calma e disposição do bispo para travar com ele as discussões que inquietavam seu coração.

Ambrósio era um homem muito ocupado, muito solicitado pelos fieis que lhe traziam todo tipo de problema, e, nos poucos momentos de descanso, gostava de se recolher para uma leitura quieta, que ninguém tinha a coragem de interromper.

Agostinho diz também que ia todos os domingos à missa para ouvir as palavras de Ambrósio, e fala sobre a difícil interpretação do trecho que diz que "o homem tenha sido criado à imagem e semelhança de Deus", levando a crer que Deus também tem uma forma e aspecto humanos, mas que na verdade essa semelhança está na substância espiritual.


VI.4. Descoberta da Verdade

Agostinho conta com muita vergonha que por muito tempo insultou a fé católica com cegas acusações, por desconhecer o que de fato era ensinado por essa religião. Ainda não tinha o pleno conhecimento de que essa fé ensinava a verdade, mas já sabia pelo menos que ela não ensinava aquilo que de ele a acusava. 

Mas cada vez mais ia se convencendo de um conceito após outro. Tinha o desejo de saber do mundo espiritual da mesma forma que sabia do mundo material, e somente pelo poder da fé poderia alcançar essa sabedoria.


VI.5. "Prefiro agora a fé católica"

Agostinho abraça a fé católica, ciente de que suas dúvidas estarão sempre contidas nas profundezas dos mistérios. 

A leitura das Sagradas Escrituras estava ao alcance de todos mas a compreensão de seu significado oculto estava reservada a quem tivesse uma percepção mais profunda, e por mais numerosos que fossem os que têm acesso aos seus ensinamentos, apenas poucos podiam de fato chegar a Deus, por estreitas passagens. 

 

VI.6. Miséria da Ambição

Agostinho buscava a realização nas conquistas terrenas, como honras, riquezas e matrimônio. Mas quanto mais ele lutava nessa busca desenfreada, mais o senhor o afastava delas, e revolvia suas feridas abertas para que pudesse assim se curar. 

Ele estava se preparando para declamar um discurso para o jovem imperador Valentiniano II, na comemoração de dez anos de seu governo (sob a regência de sua mãe Justina, pois era ainda uma criança quando assumiu o poder), e estava insatisfeito em ter que recitar mentiras que seriam aplaudidas por um público dissimulado.

E passando na rua então ele se depara com um mendigo que embriagado ria alegremente. Ele compara aquele sentimento do mendigo à sua constante tristeza e preocupação, quase que até sentindo uma certa inveja daquela alegria inocente e ignorante enquanto ele se consumia em questionamentos e temores. 

VI.7. A amizade de Alípio

Agostinho fala de seu amigo Alípio, um rapaz mais jovem que ele, também de Tagaste e de uma importante família da cidade. Alípio tinha sido seu aluno, apesera de seu pai ter se desentendico com Agostinho, e demonstrava ter grande interesse pela sabedoria que Agostinho tinha para oferecer e também demonstrava grande virtude.

Mas, influencidado pelos constumes de Cartago, Alípio tinha uma louca paixão pelos espetáculos e jogos circences, o que preocupava muito Agostinho. Mas Deus tinha planos maiores para o jovem (que viria a se tornar bispo no futuro) e assim, através da intervenção de Agostinho, ele foi resgatado daquele vício. 

VI.8. Alípio fascinado pelos espetáculos sangrentos do circo

Alípio tenta resistir à sedução da violência que embriagava a todos que assistiam o espetáculo sangrento das lutas de gladiadores. Mas sua convicção não foi forte o suficiente para resistir às investidas dos companheiros que o arrastavam para as arenas. Só muitos anos depois conseguiu se libertar das correntes daqueles jogos cruéis.

VI.9. Alípio aprende à própria custa a não julgar apressadamente os homens

Caso em que Alípio é confundido por engano com um ladrão e sofre o injusto julgamento da multidão. Tem sorte e o caso é esclarecido, com o verdadeiro larápio sendo preso. Mas a terrível experiência deixou uma importante lição para o jovem, a de não julgar ninguém precipitadamente, sob o risco de cometer uma grande injustiça.

VI.10. Retidão de Alípio e sede de verdade em Nebrídio

Alípio passa a acompanhar Agostinho em Roma e supera com honestidade as oportunidades de ganhar dinheiro de forma desonesta. Também Nebrídio segue o mesmo caminho em busca da verdade, e, apesar das muitas adversidades por que passam, Agostinho, Alípio e Nebrídio seguem firmes em suas convicções.

VI.11. Perplexidades de Agostinho

Agostinho fica dividido entre os estudos e a busca pela verdade divida, pela salvação de sua alma, e os prazeres e realizações mundanos. Refuta a possibilidade de viver em castidade, sem uma mulher, pois não se julga capaz. Na verdade, tal poder de fato não está na vontade própria do homem de se manter casto, mas se manifesta como um dom concedido por Deus depois de muita oração.

VI.12. O problema do matrimônio

VI.13. Noivado de Agostinho

VI.14. Projetos de vida em comum

VI.15. Escravo do prazer

VI.16. Discute com os amigos o sumo bem e o sumo mal


VII Livro - A busca da verdade

VII.1. Dificuldade em conceber a essência de Deus

VII.2. Objeção de Nebrídio aos maniqueus

VII.3. A origem do mal

VII.4. Deus é incorruptível

VII.5. Ainda o problema da origem do mal

VII.6. Refutação da astrologia

VII.7. Em busca da origem do mal

VII.8. A misericórdia de Deus o socorre

VII.9. Primeira leitura dos neoplatônicos

VII.10. A leitura dos platônicos leva Agostinho a buscar no próprio íntimo a verdade

VII.11. As criaturas existem e não existem

VII.12. Tudo o que existe é bom; o mal não é uma substância

VII.13. Bondade de todas as criaturas

VII.14. Rejeição do dualimo maniqueístas

VII.15. Todas as coisas devem a Deus a própria existência

VII.16. O mal como perversão da vontade

VII.17. Gradual ascensão na descoberta de Deus

VII.18. Agostinho ainda ignorava Cristo mediador

VII.19. O mistério encerrado nas palavras: o Verbo se fez carne

VII.20. A fé provém d humildade e a humanidade não se aprende em livros de filósofos

VII.21. Benéfica leitura de São Paulo


VIII Livro - A conversão

IX Livro - O batismo e a volta para a África

X Livro - Agostinho reflete não mas sobre o passado, mas sobre o presente

XI Livro - Meditação sobre o primeiro versículo do Gênesis: "No princípio, Deus criou..."

XII Livro - Meditação sobre o primeiro versículo do Gênesis: "No princípio, Deus criou o céu e a terra"

XIII Livro - Meditação sobre os significados alegóricos da criação

O Absolutismo - A Ascenção de Luís XIV

Vincennes, periferia de Paris, 1661.

O primeiro-ministro da França, o riquíssimo Cardeal Mazarino, está doente, praticamente entre a vida e a morte. Ele havia substituído o Cardeal Richelieu, que o precedeu nessa função durante o reinado de Luís XIII.
 
Já em seu leito de morte, o Cardeal, após se confessar e fazer uma reflexão sobre como adquiriu toda a sua riqueza, decide devolver aos cofres públicos o que acumulou, deixando para o rei Luís XIV toda a sua fortuna. Porém o monarca recusa a oferta, alegando que não ele não ficaria bem perante a opinião pública.
 
A nobreza já começava a especular e a se mobilizar para ver quem assumiria a função de primeiro-ministro, porém, após a morte do cardeal, o rei Luís XVI, que até então não se interessava pelos assuntos do estado, surpreendeu a todos assumindo ele próprio o controle do governo, dando início assim ao apogeu do absolutismo francês, com a famosa frase dita por ele: "O estado sou eu".
 
Essa história está contada no filme O Absolutismo - A Ascenção de Luís XIV, de 1966, do aclamado diretor italiano Roberto Rosseline.
 
 
 
O filme mostra a transformação de Luís XIV, de um simples rei indolente, controlado por sua mãe, a Rainha Ana da Áustria, para o Rei Sol, como ficou conhecido.

O terceiro rei da dinastia dos Bourbon (era neto de Henrique IV, mostrado nos filmes A Rainha Margot e Henrique IV - O Grande Rei da França), ele se tornou rei aos 5 anos de idade, com a morte de seu pai, Luís XIII (do filme Os Três Mosqueteiros). Sua mãe foi a regente durante 8 anos.


O pequeno delfim Luís XIV, com seus pais
Luís XIII e Ana da Áustria
 
Aos 13 anos de idade ele assumiu o trono, mas quem governava mesmo era o Cardeal Mazarino, o primeiro-ministro. Quando o cardeal morreu, em 1661, Luís XIV estava então com 23 anos de idade.
 
Cardeal Mazarino
 
Luís XIV então decidiu governar sozinho, e tomou uma série de decisões que transformaram o modo de vida da nobreza.

A primeira transformação foi em seu guarda-roupa. Ele introduziu as rendas, o colete e o culote (esse último seria tão emblemático na Revolução Francesa), que foram precursores dos ternos usados hoje em dia. Foi ele também que instituiu o uso da peruca pelos homens.



Além da vestimenta, Luís XIV também criou protocolos e rituais rigorosos para suas refeições, sua higiene pessoal, seus passeios e toda a sua rotina.

Foi ele também que construiu o Palácio de Versalhes, a 19 km de Paris, para onde se mudou toda a nobreza. Sua intenção com todas essas medidas era fazer um distinção bem clara entre quem detinha privilégios de pertencer à seleta classe dos nobres, e que pertencia ao populacho em geral.


Palácio de Versalhes

Além disso ele queria também impressionar as outras nações, representando a grandiosidade e o poderio da França sobre os outros países. O palácio chegou a abrigar 36 mil pessoas entre nobres e serviçais.

Sobre o Absolutismo - Maquiavel
 
O Absolultismo é uma teoria em que o poder está concentrado nas mãos de um único soberano. Ele foi detalhadamente explicado no livro O Príncipe, escrito pelo diplomata italiano Nicolau Maquiavel, em 1513.

O livro é praticamente um manual de como ser um soberano, ou seja, um príncipe. Conhecido pela máxima que diz que "os fins justificam os meios", apesar de não haver essa frase escrita literalmente em sua obra, a verdade é que Maquiavel realmente não faz juízo de valor sobre o bem e o mal, apenas aponta os efeitos práticos de se agir de uma maneira ou de outra.

Para ele, se um príncipe não puder ser amado e temido ao mesmo tempo, é melhor que ele seja temido, por causa da ingratidão inerente à condição humana.

Maquiavel escreveu tal manual como presente a Lourenço de Médice, que na época era governante de Florença, na atual Itália, de quem o escritor era conselheiro e diplomata.

A todo momento o autor usa como exemplos personagens históricos de diversas épocas, como Aníbal, Alexandre o Grande, Rômulo, Júlio César, e vários outros. Alguns deles nós já apresentamos aqui no blog. Para melhor compreensão de sua obra (não é uma leitura fácil), é muito importante que o leitor já tenha um conhecimento prévio da história desses personagens.

Outra história que ajuda demais no entendimento da obra de Maquiavel está contada na excelente série Os Bórgia, da qual falaremos em uma postagem exclusiva. Mas já podemos adiantar que se trata da história do papado de Alexandre VI, o espanhol Rodrigo Bórgia, pai da conhecida Lucrécia Bórgia, de César Bórgia, e de mais três filhos.



Maquiavel veio a se tornar praticamente amigo de César Bórgia (ou pelo menos um aliado) e o fílho do papa é um dos  personagens mais recorrentes no livro, muito utilizado em vários exemplos. Portanto, assistir a essa série realmente esclarece demais o entendimento do livro.

Paralelo na Inglaterra

Nos primeiros 17 anos de reinado de Luís XVI acontecia na Inglaterra a Revolução Inglesa (que foi precursora da Revolução Francesa) e que combatia a monarquia com o objetivo de instaurar a República.

O então rei da Inglaterra, Carlos I, foi condenado e executado em 1649  pelos partidários da República, que chegou a ser instaurada durante 11 anos, de 1649 a 1660, sob o governo de Oliver Cromwell, de quem ainda falaremos mais no filme Cromwell.